Professor Leandro Bravo

CAPÍTULO 2 – Um encontro inesperado

CAPÍTULO 2

 

Um encontro inesperado

 

Cecília teve febre durante toda a madrugada encharcando as costas de Aladar de suor. O rapaz chegou a apertar ainda mais o laço que prendia-a ao corpo dele a fim de que ela não viesse a despencar no chão.

Entretanto, neste momento, quando o sol já surgia entre as montanhas, o rosto de Cecília havia retomado a cor. Portanto, ela conseguia manter uma boa postura sobre Ventania e não estava mais ligada por uma faixa a Aladar.

Os três seguiram pelos campos de vegetação rasteira até pararem diante de um bosque imenso conhecido como Floresta dos Dragões.

Todos ouviam grunhidos assustadores vindos de dentro da mata. As árvores possuíam tamanhos colossais e uma neblina úmida escapava para o lado de fora trazendo odores típicos de pântanos.

No entanto, de onde estavam não corriam perigo, pois os gigantes répteis que habitavam dentro do bosque nunca saiam para o lado de fora.

— Vamos entrar? — sugeriu Nestor em tom de brincadeira. — Viajar com dragões é mais veloz e emocionante do que com cavalos. 

Porém, esta piada causou um violento  calafrio em Cecília.

— Não tem a menor graça, Nestor!

— Para com isso — concordou Aladar. — Se estivéssemos montando cavalos comuns, iríamos contornar a floresta. Mas, já que podemos voar voaremos por cima dela.

— Tudo bem — insistiu Nestor em tom irônico. — Só espero que Ventania e Amizade não fiquem muito cansados enquanto sobrevoamos a floresta. Por acaso já pensou nisso?

— Não temos opção — respondeu Aladar irritado. — Precisamos chegar logo no caminho de terra que leva para a Estalagem chamada Sossego, onde passaremos a noite. E chega dessa conversa… vamos comer. Pega os pães e as frutas na mala.

Aladar forrou a relva verde com um tecido amarelo e Nestor pôs os alimentos sobre ele. Em seguida, os três sentaram-se ao redor e passaram a comer.

Cecília saboreava as frutas com um sorriso no rosto, já que sua febre havia ido embora. Ela mastigava goiabas e mastuzes (frutos de cor lilás que deixavam a língua tingida). Já Aladar e Nestor atacavam os pães.

Porém, no momento em que acabaram a refeição, Cecília percebeu que as manchas avermelhadas já estavam subindo para as suas canelas.

— A ferrugem está se espalhando! — assustou-se a menina, porém uma voz distante chamou sua atenção.

— Me ajudem. Me ajudeeeem! — berrava uma moça de cabelos esvoaçantes galopando na direção deles.

Quando ela chegou mais perto todos perceberam que a jovem vestia-se como camponesa, entretanto, cavalgava com elegância. Era uma moça loira de uns vinte anos que tinha uma aparência singular. Pois, ainda que fosse bonita, possuía olhos azuis em tons diferentes. Sendo o olho esquerdo, azul branqueado, e o olho direito, azul escuro.

— O que está acontecendo? — perguntou Aladar preocupado.

— Uns bandidos atacaram a Vila da Mansidão. Meu pai enfrentou alguns deles… pois tentavam me pegar. Depois, ele mandou-me fugir e procurar ajuda. Por favor, ajude-nos… soldado!

— Como sabe que eu sou um soldado?

— Por causa da sua postura… militar — explicou a moça. — Eu imploro que nos socorra.

— Não vai dar não, moça. — intrometeu-se Nestor.

— Esperem um pouco. Quem são eles? — disse Cecília apontando para um grupo de homens montados a cavalo há cerca de um quilômetro de distância.

— São os ladrões! — desesperou-se a moça.

— Qual é o seu nome? — perguntou então Aladar.

— Me chamo Isla.

— Olha Isla… monta depressa no cavalo do meu irmão. Vamos voar para bem longe daqui.

— Não posso —, respondeu a moça — meu cavalo não tem asas e eu jamais o abandonaria. Eu o crio desde que era um potrinho.

— Então vamos sem ela, Aladar! — exclamou Nestor impaciente.

Assim, Aladar, sem importar-se com a comida sobre a toalha amarela, subiu em Ventania. Depois puxou Cecília e posicionou-a atrás de si. Nestor já havia montado em Amizade. 

Mas Isla analisava a situação compreendendo que não seria bom colocar todos em risco. Aliás, a menina, pensou ela, parecia estar muito doente. Assim, a moça bateu o cabresto de seu cavalo e impetuosamente lançou-se para dentro da Floresta dos Dragões.

Aladar ficou surpreso com a atitude dela. E, sem tempo para refletir, já que os criminosos aproximavam-se rapidamente, resolveu também entrar na temida floresta.

— Nestor, nós iremos por dentro da floresta! — disse Aladar. — Não podemos deixar a camponesa sozinha.

— O que você está fazendo? — retrucou o garoto. 

Porém, percebendo que os homens estavam quase chegando, também usou o cabresto dando ordem à Amizade, e assim, a égua disparou para o interior do bosque.

Um segundo depois, Aladar também invadiu a Floresta dos Dragões. Entretanto, quando sentiu os delicados braços de Cecília apertá-lo, o medo fez com que uma poderosa descarga de adrenalina atravessasse todo o seu corpo.

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