CAPÍTULO 3
A Floresta dos Dragões
Logo, eles alcançaram Isla no interior do bosque.
A moça e seu cavalo, agora, movimentavam-se cuidadosamente temendo chamar a atenção de algum dinossauro faminto.
Ouvia-se ocasionalmente sons emitidos à distância por animais de grande porte. Porém, o quarteto recém formado só enxergava árvores altas em qualquer direção que olhassem. Uma brisa gelada soprava entre os ramos espessos movendo as folhas úmidas.
— Vocês não deviam ter entrado na floresta — disse Isla, quando na realidade, sentia-se profundamente aliviada em ter companhia.
Assim, após alguns minutos de caminhada sem qualquer susto, Aladar finalmente acalmou-se e passou a observar Isla em seu cavalo. A moça demonstrava claramente o quanto amava o seu animal, acariciando sua crina e abraçando seu pescoço.
— Estamos indo para a Estalagem do Sossego — revelou Aladar. — Você pode ir conosco. Acredito que lá conseguirá ajuda para seu o pai e para a sua vila.
— Obrigada. Acredito que não tenho outra escolha. — respondeu a moça dirigindo um olhar agradecido a Aladar.
— Espero que não tenhamos encontros indesejados nesta floresta — sussurrou Nestor com palavras capazes de congelar os corações de seus ouvintes.
Cecília permanecia sentada sobre Ventania bem atrás de Aladar. Já Nestor, cavalgava ao lado dele, sempre atento a qualquer tipo de som ou movimento estranho.
— Na verdade — continuou Aladar —, não entendo porque os bandidos te seguiram até fora da vila.
Nisto, Isla olhou-o com uma expressão enigmática, mas permaneceu em silêncio.
— De qualquer forma, não importa o que eles queriam, pois não vão mais conseguir — insistiu Aladar determinado causando um longo suspiro na moça.
Cecília também suspirou, e quase que ao mesmo tempo que Isla, o que chamou sua atenção. Assim, as duas entreolharam-se amigavelmente e sorriram.
— Você é irmã dele? — perguntou Isla.
— Posso dizer que sim… — respondeu Cecília rindo de forma amigável.
— Sabia que você é muito bonita? — elogiou Isla.
— Nem tanto assim… — replicou a garota toda envaidecida.
— E qual é o nome do seu cavalo? — questionou Nestor entrando na conversa.
— Ele se chama Nobre.
— Muito prazer Nobre — respondeu Nestor desejando, neste instante, conversar com Isla também. — Aquele é Ventania, nosso cavalo alado. E esta égua se chama Amizade, ela é muito forte sabe… mas não é nossa… foi emprestada pelo vizinho.
Então, Aladar encostou ao lado de Nestor, procurando algo na bagagem que Amizade carregava. Logo, encontrou um escudo redondo forjado em ferro. O soldado já trazia uma espada presa ao seu cinto.
— Quantas armas você tem? — perguntou Isla observando as malas que levavam.
— Por que? Você sabe lutar? — replicou o soldado irônico.
— Sei sim — respondeu a moça com um sorriso desafiador.
— Sério? Nunca conheci uma camponesa que soubesse usar armas — admirou-se Aladar.
— Olha… tenho somente uma espada e um escudo — continuou enquanto passava o escudo para as mãos da moça.
Mas, no exato momento em que ela examinava as gravuras de dinossauros feitas em relevo no escudo, todos ouviram um som apavorante que mais parecia guizo de cobra.
Tzi, Tzi, Tzi, Tziiiiii…..
Os quatro, imediatamente, olharam para trás e avistaram um réptil carnívoro. Tratava-se de um velociraptor de pele multicolorida, com quase um metro e noventa centímetros de altura, mostrando seus dentes afiados. O predador achava-se a 6 metros deles.
— Quando eu disser todos correm — sussurrou Aladar.
Mas quem tomou iniciativa foi o velociraptor partindo na direção deles. Assim, todos dispararam também.
Os cavalos alados, por serem muito velozes, conseguiram galopar à frente, mantendo distância do velociraptor. Mas Isla foi ficando para trás.
Nestor via galhos de árvores passando rapidamente sobre a sua cabeça enquanto concebia precisamente quais movimentos fazer. Ele saltava os obstáculos pelo chão e abria caminho. Mas enquanto galopava, ouviu o grito ansioso de Aladar:
— Volta Nestor!
Quando o menino virou-se, percebeu que o velociraptor estava em cima de Nobre, atacando-o, enquanto Isla buscava golpear o réptil usando o escudo de ferro.
Aladar aproximou-se de Nestor, jogando Cecília em suas costas, transferindo-a, desse modo, para cima de Amizade. Em seguida, correu para ajudar Isla.
Entretanto, neste momento, Cecília soltou um grito agudo bem no ouvido de Nestor. Pois, outro velociraptor, ainda maior que o primeiro, estava a uns 3 metros de distância deles.
Nestor, então, usando seu reflexo quase felino, bateu o cabresto e conduziu Amizade em uma corrida eletrizante por meio das árvores. Ao avistar um penhasco, resolveu fazer a égua acelerar ainda mais. Assim, lançou-se sobre a face do abismo gritando bem alto:
— Segura Cecília!
A menina estava entre Nestor e a bagagem, mas só ficou aliviada quando percebeu Amizade abrir suas asas e planar sobre o vale.
Enquanto eles voavam, Nestor olhou para cima procurando uma brecha entre os ramos das árvores, porém, as copas eram muito densas para serem atravessadas. Portanto, ele fez Amizade pousar com segurança na superfície do vale.
Após aterrissarem, até mesmo Cecília, que costumava ser medrosa, abraçou Nestor bem forte e disse:
— Isso foi incrível!
Enquanto isso, Aladar havia juntado-se a Isla na luta contra o velociraptor. E a esta altura, o réptil já havia recuado um pouco, sendo que, aliás, Nobre já estava em pé outra vez.
Aladar feria o predador com a espada ao mesmo tempo que Isla defendia-os usando o escudo. Os movimentos de Aladar e Isla estavam sincronizados. E os dois formavam uma boa dupla de combate para alívio de Nobre.
Entretanto, de um segundo para o outro, o velociraptor saltou na direção de Aladar. Mas, o soldado conseguiu realizar um golpe certeiro com a espada… perfurando a barriga do réptil enquanto ele ainda estava no ar. Assim, o dinossauro caiu no chão e logo morreu.
— Você está bem? — perguntou a Isla preocupada com Aladar.
Tzi, Tzi, Tziiiii.
Eles reconheceram o som que parecia um chocalho de cobra. Tratava-se do outro velociraptor que havia atacado Nestor e Cecília. Como os dois adolescentes escaparam, ele retornou e acabou encontrando Aladar e Isla.
— Deixa este comigo! — disse o rapaz determinado, pondo-se na frente da moça.
Então, Isla, que já estava esgotada por lutar com o primeiro dinossauro, colocou-se na frente de Nobre e de Ventania empunhando o escudo em posição de defesa.
“Eu o vencerei com um único golpe”, pensava Aladar. “Ó Rei, minha Fortaleza, me ajuda”, rogou o soldado.
O velociraptor saltou quase dois metros de altura e quando caiu sobre Aladar derrubou-o no chão. Assim, ele sentiu as unhas pontiagudas do réptil rasgar sua pele.
Porém, seu braço direito ficou livre, logo, ele girou a arma e exatamente no momento em que o dinossauro tentou morder seu rosto, ele atravessou o pescoço do animal com a lâmina da espada.
Então, esforçou-se para sair, arrastando-se, debaixo do corpo do réptil que havia caído sobre ele.
Mas, percebeu, assim que saiu, Isla diferente. Ela olhava-o expressando pura admiração e aproximou-se dele. Aladar sentiu um frio na barriga e quando se deu conta já estava envolvido nos braços dela. Inesperadamente, a moça passou a chorar por conta de todo o stress que havia acabado de suportar.
Foi neste momento que Aladar notou um novo sentimento surgir em sua alma. Ele conseguiu perceber exatamente o que acontecia dentro dele e mal pôde acreditar que estava apaixonando-se por Isla.
***
Os adolescentes prosseguiram a pé por algum tempo, puxando cuidadosamente Amizade pelo cabresto. Eles procuravam uma trilha de volta que levasse-os ao encontro de Aladar e Isla.
Porém, repentinamente, Cecília parou de boca aberta:
— Uaaaaau!
Nestor também ficou deslumbrado, assim que percebeu o gigantesco dinossauro banhando-se tranquilamente em uma lagoa à sua frente.
Imediatamente os dois esconderam-se atrás de um arbusto. De lá, passaram a admirar o famoso dinossauro conhecido como beemote.
Tratava-se de uma espécie herbívora. O réptil possuía um pescoço exageradamente longo, uma estrutura óssea poderosa e uma cauda para lá de comprida também. Ele devia medir aproximadamente uns 15 metros no total, se contássemos do focinho até a ponta da cauda.
Nestor e Cecília ficaram paralisados por algum tempo, observando o beemote, sem conseguirem pronunciar uma só palavra.
***
Após descerem cautelosamente um penhasco íngreme e caminharem um pouco através do vale, Aladar e Isla, enfim, avistaram de longe Nestor e Cecília. Eles repararam que os adolescentes estavam perto demais de um beemote adulto.
— Que animal fantástico! — exclamou Isla chocada. — Nunca havia visto um antes.
— Eu espero que seja a sua primeira e última vez — afirmou Aladar lembrando-se das histórias que o capitão Osmar, chefe das tropas na Vila da Humildade, havia lhe contado. — Muitos perderam suas vidas enquanto tentavam capturar estes beemotes.
— Isla, fica bem aqui. Pois tentarei me aproximar deles sem fazer barulho a fim de trazê-los para cá.
Assim, a moça ficou cuidando dos cavalos enquanto o soldado afastava-se na direção do beemote. Mas Aladar andou pouco, visto que, logo reparou que haviam outras pessoas na floresta.
“Eles de novo” pensou consigo. O grupo de salteadores que havia perseguido Isla do lado de fora da floresta, agora, aproximava-se sorrateiramente por detrás de Nestor e Cecília sem que eles notassem.
Assim, o coração de Aladar gelou e por um momento não soube o que fazer. Afinal, estava desolado com a visão: os adolescentes encontravam-se… completamente distraídos… entre um grupo de criminosos e o beemote.