Professor Leandro Bravo

CAPÍTULO 6 – Uma lição preciosa

CAPÍTULO 6

 

Uma lição preciosa

 

De manhã Cecília acordou bem melhor, já que a febre havia desistido de incomodá-la. 

No entanto, a menina encontrava-se como uma flor murcha, afinal, seu cabelo havia começado a cair e sua pele estava ficando toda ressecada.

Aladar foi até o quarto de Isla acompanhado pelos adolescentes, entretanto, depararam-se com o cômodo vazio. 

Porém, um pouco depois, os três encontraram-na em um pequeno restaurante anexado à estalagem tomando café da manhã. 

O lugar era simples, ainda assim, muito aconchegante com móveis de madeira em estilo campestre. O balcão principal estava repleto de frutas frescas, além de pães, queijos e duas garrafas de café.

Na noite anterior, Isla havia enviado mensageiros a dois reinos vizinhos com pedidos de socorro para seu pai e para a Vila da Mansidão, visto que, a própria estalagem, estava com um baixo número de soldados.

No restaurante, ela estava sentada só em uma mesa para quatro pessoas. Mas ao perceber a presença dos seus novos amigos, rapidamente colocou-se em pé.

— Sentem-se comigo. Que bom vê-los… 

Ela, então, fez uma breve pausa e continuou:

— Quer dizer… não estou vendo hoje… mais do que estava ontem. De qualquer modo… é maravilhoso enxergar o rosto de vocês novamente.

— Mas por quê está dizendo isso? A sua visão piorou? — perguntou Aladar reparando que seu olho esquerdo achava-se totalmente branco, enquanto que o direito parecia estar começando a clarear também.

— Pois é. Acordei sem ver nada com o olho esquerdo…

— E o direito? interrompeu Nestor.

— Agora vejo um pouquinho de névoa branca na frente do olho direito. E foi assim que a cegueira do olho esquerdo começou… — disse emocionando-se.

Mas, neste momento, Cecília, que havia sentado ao seu lado, segurou amavelmente sua mão e com um sorriso cheio de esperança disse:

— Nós duas encontraremos as folhas medicinais! Logo estaremos completamente curadas e tudo isso será passado.

Isla, comovida, apertou os lábios, mas, depois, abriu um sorriso confiante. Era muito bom ter alguém que compreendia exatamente o que ela estava vivendo sentada bem ao seu lado.

Assim, o quarteto fez silêncio por algum tempo. Não que Nestor não tivesse pensado em dizer algo mais de uma vez, porém, conteve-se preservando instintivamente aquela atmosfera de meditação.

Mas isso durou até o momento em que o menino viu, através de uma janela de vidro, o funcionário da pousada trazer um grupo de seis adultos e duas crianças para o hall de entrada. O homem fez sinal para que os visitantes esperassem e, assim, acessou o corredor dos quartos. Depois, voltou junto com um senhor de muletas.

— Olha Cecília! Aquele idoso que socorremos na beira da estrada de terra — disse Nestor orgulhoso.

Cecília olhou depressa, e bem a tempo de ver as crianças correrem radiantes em direção ao homem, abraçando-o com seus pequeninos braços entusiasmados. Na sequência, os adultos também aproximaram-se. Todos comemoraram, cheios de alegria, por terem encontrado seu ente querido são e salvo.

Cecília, sensibilizada pelo momento, sorria enquanto enxugava as lágrimas do próprio rosto. 

— Estou contente em saber que vocês tiveram compaixão daquele pobre homem — disse Aladar.

Mas Nestor, num instante, mudou de expressão. Pois lembrou-se de que, na verdade, ele relutou em socorrer o homem, e só realizou esta boa ação, por conta da insistência de Cecília. 

Então, sentiu vergonha. Espantou-se com a dureza de seu coração. Mas, arrependeu-se, resolvendo nunca mais repetir esta atitude.

Assim, Nestor olhou para sua amiga de treze anos de idade e pensou que ela até poderia estar enferrujando por fora, mas seu coração certamente estava sendo renovado a cada dia. Neste momento, ele deixou de contemplar a sua aparência e passou a admirar tanto a sua tocante sensibilidade quanto o seu dom para exercer misericórdia.

Logo que eles acabaram de tomar o café da manhã, Isla resolveu partir junto com Aladar, Nestor e Cecília em busca das folhas medicinais. Afinal, não lhe restava escolha já que em pouco tempo ficaria completamente cega.

Seu cavalo, Nobre, permaneceria em segurança no estábulo da hospedaria. Decidiu-se que os quatro voariam para a Cidade Edificada sobre o Monte montados em Ventania e Amizade. 

Ainda na Estalagem do Sossego, nossos viajantes foram informados de que poderiam chegar à Cidade Edificada sobre o Monte em um só dia voando à cavalo. Assim sendo, apressadamente, levantaram voo do quintal da pousada.

Cecília achava-se novamente amarrada às costas de Aladar, pois sua febre estava retornando e ela poderia não ter forças suficientes para segurar-se. A dupla voava tranquilamente sobre o cavalo Ventania.

Já Isla, ia de carona com Nestor, montada sobre a égua Amizade. Mas sentia-se um tanto enjoada, visto que o menino não parava de subir e descer desenhando uma sequência de ondas no céu, pois procurava passar por dentro de cada nuvem que surgia no horizonte celeste.

Passados cerca de cinquenta minutos, Nestor avistou de longe a Cidade Edificada sobre o Monte.

— Estamos quase lá. Vejam… é a nossa cidade! 

A esta altura do percurso Cecília já havia perdido metade dos seus cabelos, resultado das fortes rajadas de vento. No entanto, alguns fios que sobraram acabaram por grudar em seus dentes enquanto ela sorria de alegria por encontrarem a cidade.

Então, neste momento, subitamente, eles foram cobertos por uma sombra imensa. 

Aladar logo olhou para cima, percebendo a figura de um dragão pronto a cuspir fogo sobre eles.

— Um draaaagão! — berrou fazendo Ventania dar um grande mergulho no ar.

Rapidamente, Nestor também fez Amizade precipitar-se.

Ventania e Amizade desciam em queda livre mantendo suas asas fechadas, enquanto todos seguravam-se firmes. Assim, somente quando os animais já estavam bem próximos do solo abriram novamente as asas a fim de aterrissarem. E desta forma, eles conseguiram tomar uma boa distância do réptil alado.

Ao pousarem perto de um arvoredo Aladar advertiu:

— Fiquem todos juntos. Se o dragão vier até aqui… teremos que enfrentá-lo.

Nisto, surgiu um gigante bem detrás das árvores. Ele possuía uma voz semelhante ao som de um trovão:

— E você acha mesmo que poderá enfrentar um dragão como este?

Todos pasmaram à vista do gigante. O homenzarrão tinha barbas que mais pareciam arames farpados, além de cabelos desalinhados e um olhar firme. Ele media cerca de 4 metros de altura e trazia uma extensa lança na mão.

Após tentar intimidar os viajantes, colocou os dedos entre os lábios emitindo um assobio estridente. Logo, o dragão desceu e pousou bem ao seu lado, como se fosse um cachorro adestrado.

— Ora, ora, ora… — disse o gigante de modo sarcástico. — Finalmente te encontrei… princesa Isla!

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